Sono: qual sua importância e como funciona?
"Os homens compartilham um único mundo, a não ser durante o sono, onde cada um habita o seu próprio.". (Heráclito)
Durante anos a ciência esteve, ironicamente, "adormecida" para a complexidade do sono. Estamos despertando e tomando consciência da sua complexidade. Passamos um terço da nossa vida comandados pelo sono. E ainda, tudo o que fazemos durante a vigília é um reflexo do que vivemos durante a noite.
Vivemos uma vida imposta por metas. Em uma corrida frenética por alcança-las, o indivíduo tenta se superar a cada momento, incorporando na sociedade hábitos noturnos inadequados. A ideia geral é de que ao dormir menos, produzimos mais, sem avaliar a qualidade da vida. Ainda nos preocupamos muito com a quantidade. Veja o vídeo disponível pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=DfCrmyOsoUA .
Conhecer as fases do sono e como elas podem interferir no seu cotidiano pode ser útil no planejamento do seu dia e, aí, sim aumentar a sua produtividade.
O sono é constituído por fases consecutivas.
A começar pelo adormecer, que se caracteriza por ser o momento de transição entre o estado de vigília e a primeira fase do sono que seria uma vigília descontraída. Para que o indivíduo chegue a este estágio é necessário que o ambiente esteja propício para ocorrer o sono, ou seja, com um mínimo de ruído possível, temperatura e iluminação adequada, pois até este momento o limiar de despertar conserva-se baixo. Durante até essa fase de sono lento, o tônus muscular é mantido e o indivíduo ainda se encontra receptivo às informações do meio exterior. Estas duas fases são como uma preparação para que o indivíduo possa então passar para os terceiro e quarto estágios, conceituados como sonos profundos. Fisiologicamente, estes são os estágios mais reparadores. Aqui se encontra a fronteira que "separa" o sono REM (Rapid Eyes Movements) ou MOR (Movimentos Oculares Rápidos) dos outros.
A cada noite então percorremos sucessivamente todos os estágios do sono, partindo do mais leve (adormecer) até o mais profundo (sono MOR). Este ciclo dura em média 1,5 a duas horas. A primeira ocorrência do sono paradoxal aparece em média 100 minutos após o adormecer e dura aproximadamente 10 minutos e caracteriza o primeiro sub-ciclo do sono. Em seguida sobrevem um segundo sub-ciclo, que vai terminar com uma fase MOR de 15 a 20 minutos. Em adultos, o sono noturno é composto de quatro a seis ciclos infradianos, ou sub-ciclos. Ao final da noite o sono paradoxal terá constituído 29% da duração total do sono, ou seja, cerca de 150 minutos. Neste estágio, o indivíduo se encontra num estado ativo de recuperação mental e psicológica, abrigado por um profundo relaxamento do tônus muscular e desconectado das informações sensoriais presentes no meio externo, exceto a audição. Condição em que o indivíduo mergulha nos sonhos.
É importante considerar que é nesta fase que a memória se consolida. Todas as informações que obtemos durante o dia do meio, através dos nossos órgãos sensoriais, ficam armazenadas em estruturas cerebrais, constituindo a memória de curto prazo. Durante o sonho essas informações são confrontadas com a memória definitiva, reconstruindo essa memória. Podemos concluir que ao fim de cada ciclo de sono, somos um novo indivíduo. Este ciclo é fundamental e negligencia-lo pode trazer resultados desastrosos, como o branco ao fazer uma prova, depois de uma noite acordado sob o efeito do guaraná, ou ainda, acidentes automobilísticos gerados pelo uso de anfetaminas (popularmente conhecido como “rebites”).
Os padrões de sono mudam no decorrer da vida. No período neonatal, o sono REM representa mais de 50% do tempo total de sono. Além disso, os recém-nascidos passam diretamente da vigília para o sono MOR.
Em adultos, o sono noturno é composto de quatro a seis ciclos infradianos de aproximadamente 90 minutos. Os primeiros ciclos da noite são mais longos do que os do final.
O mundo moderno gera cada vez mais conhecimento, chegando a gerar estresse por excesso de informações, e parece não dar importância para aquilo que descobrem, pois não a sabem usar. Sabemos que o cigarro faz mal à saúde, mas continuamos fumando. Sabemos que o nível de ruído atrapalha a qualidade do sono, e não fazemos nada ou pouco demais para alterar essa situação. O conhecimento deveria ser um aliado da qualidade de vida. Isso não acontece, pois mesmo se conscientes ao desvendar o mistério do caso, fingimos que não estamos vendo as conseqüências do nosso comportamento.
Artigo produzido por:
Edson Sidião de Souza Júnior é Farmacêutico, Mestre e Doutor em Medicina Tropical pela UFG. Atualmente Gestor Acadêmico da Faculdade Estácio de Sá de Goiás. Atua na área de Parasitologia (com ênfase em Protozoologia Parasitária Humana) e Atenção Farmacêutica. Já atuou como docente na UFG, PUC-GO,UNIP, IUESO, em cursos de graduação e Pós-Graduação. É avaliador ad hoc de cursos de graduação em Farmácia do INEP/MEC.
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